domingo, 23 de setembro de 2012

Capítulo II - O Elfo Firulas

E assim, lá estão Ivan e Cauã, em cima do lombo do velho Guaxindiba, sem que eles soubessem sequer que o Velho dragão andava pelas suas terras.

O que eles precisavam é arrumar um jeito de descer do lombo do bicho, enquanto ele estava sonolento, saindo do sono pesado, sem notar que dois meninos humanos estavam em cima dele.
Senão, ia ser grande confusão. De certo, Ivan e Cauã nunca mais apareceriam em casa, causando grande dor, e ninguém ficaria sabendo o que havia acontecido.


Por um momento, os meninos não acreditaram no que viam. Depois de um zumbido forte, uma flecha acertou a casca do dragão (de certo não causando grande dor, pois o monstro nem se mexeu), nascendo ai a chance de escaparem com vida.

Ivan foi primeiro, descendo como louco pela lateral do bicho, que respirava cada vez mais forte. Cauã ia atrás, quase subindo na cabeça do amigo.


Quando chegaram ao chão macio, terra firme, correram como nunca. Não sabiam quem havia atirado aquela flecha, mas com certeza  iam ficar imensamente felizes em conhecer o amigo flecheiro.
Se esconderam atrás de algumas árvores,e ficaram imóveis, escutando o bater dos próprios corações saindo pela garganta.

O Velho Dragão continuava ali, parado, mexendo poucos os olhos, respirando, tirando as patas um pouco, como se recupera-se a consciência aos poucos.

Ivan olhou para Cauã, que continuava com a boca aberta e sem dizer nada. Falou em voz bem baixa, o mais baixo que conseguiu:

 "- Cara, isso é um dragão??"

Cauã continuava com a boca aberta, olhos abertos...e não emitia som algum.

"-Cauã, fala comigo, mano!! "Isso ai" é um dragão???

Pobre Cauã. Não conseguia emitir um som sequer. Queria falar, queria apontar, mas seus braços não mexiam... seus olhos e sua boca só abriam... nada mais.

Ivan começou a olhar em volta. Se lembrou do "amigo flecheiro". Olhou para dentro da mata... Nada se movia. Nenhum som. Mas "ele" estava lá...tinha que estar. Atirou a flecha com a corda amarrada. Eles desceram por ela... Mas onde ele esta??

Mas o que está acontecendo?? Como pode ser um dragão?? Aqui no bairro?? Na roça??? Não era um porco?? Era um porco, mas não daquele tamanho, nem com aqueles dentes.

Nesse momento Ivan prestou mais atenção no bicho que despertava lentamente. Havia um cheiro no ar...um cheiro diferente, forte, de animal. Como é que os cães nunca perceberam o cheiro?? Eles são ótimos caçadores. "O pai leva eles para caçar...eles farejaram centenas de vezes estes pastos e nunca sentiram nada... tem algo estranho aqui...muito estranho".

O dragão parecia mais acordado. De onde estavam, Ivan podia ouvir a respiração do enorme lagarto ficar cada vez mais forte.

"-Precisamos sair daqui, Cauã! O dragão está mais desperto e logo vai começar a nos farejar e ouvir melhor, se é que já não sabe onde estamos".

Cauã olhou para Ivan ainda mais assustado e, ainda sem emitir um som, fez que sim com a cabeça e se moveu lentamente, seguindo Ivan para dentro da mata. De certo, o velho Guaxindiba não os perseguirá se eles se esconderem na mata densa.

Quando já caminham havia 5 minutos mata adentro, noite chegando depressa, Ivan parou e procurou escutar alguma coisa. Andaram no maior silencio possível, que foi quebrado por Ivan:

"-Acho que estamos seguros aqui. Podemos falar agora. Cauã, eu estou pensando em tudo isso, o dragão, os cheiros que nenhum cão sentiu, você está me seguindo? Aconteceu alguma coisa, algo que explique o que está acontecendo...".

Cauã pareceu acordar de um sonho. Ouviu as palavras do amigo quase sem pensar direito: "- Como assim cheiros?? Cães?? Era mesmo um dragão??".

"-Cauã, acho que passamos por alguma espécie de portal. Só pode ser isso. Não tem outra explicação. Estamos na roça, mas numa dimensão diferente. Você sentiu alguma coisa na nossa caminhada?? Algo ruim?? Ou bom?? Alguma sensação??Algo??".

"-Calma, Ivan.. deixa eu pensar... não senti nada diferente, nada não... ainda não tô acreditando...era mesmo um dragão...e dos grandes..você sentiu a respiração dele?? Era quente ou era impressão minha?? Caraca, mano, o bicho solta fogo, não é?? Tipo Glaurung, não é?? Não pode ser. Eu devo estar louco...e você disse "outra dimensão"? Sim, pode ser outra dimensão.... um portal..onde terá sido??... ouviu isso?? Pareceu uma folha estalando".

"-Não foi uma folha estalando, foi meu arco retesando e ele esta apontando uma flecha para você agora. Então, mexa-se bem devagar, e virem os dois para mim. Não achem que não consigo atingir os dois antes que vocês vejam de onde partiram as flechas. Vamos, devagar, virando para mim"

.

E lá estava ele. Um menino, de aproximadamente 12 anos, com um arco e uma flecha que parecia bem pontuda. Então havia sido ele quem atirou a flecha no dragão, com a corda?? Mas, ele era elfo??
"-Quem são vocês, edain? Estavam nas costas do Velho Guaxindiba, o que não mostra muita inteligência. Falam muito alto para alguém que esta fugindo de um dragão!"


Ivan olhou para o menino com o arco apontado, e disse:

"-Você já sabe quem somos. E você, quem é?".





Era mesmo um espanto, tanto para Ivan e Cauã quanto para Firulas.
Edain, assim tão perto. Eles eram ouvidos e vistos, mas a comunicação era proibida. Ninguém nunca havia quebrado as leis antes.

"Meu pai vai me dar a maior bronca", pensou Firulas, "afinal havia de ser justo ele a quebrar as regras de seu povo?". Mas Firulas não se conteve, pois era a primeira vez que um homem chegava até eles. Isso nunca havia acontecido antes e ele não poderia deixar passar a oportunidade. "E se este caminho de que falavam, este portal, estiver aberto? Será o fim da paz de seu povo. Sim, de certo havia feito o certo. Levaria os dois Edain de reféns, que não voltariam nunca mais para a dimensão de onde vieram. Ninguém pode ficar sabendo da existência de elfos".


Mas a noite já estava lá, no céu. As estrelas eram as mesmas. A lua era a mesma.

Ivan estava preocupado com a situação. Estavam em algum lugar (que não era o lugar que eles pertenciam), conversando com elfo (que não era para existir), de noite (quando já era para eles terem voltado) e sem perspectiva de voltar logo para casa. 



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