quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Capítulo III - O Velho Guaxindiba


Ao despertar naquela noite, Guaxindiba sentiu algo diferente.
Fora o incomodo de algo espetando suas costas, tem um cheiro diferente. 
Com seus sentidos super aguçados, o velho dragão podia saber de tudo o que acontecia nas redondezas, mesmo depois de ter passado muito tempo. Afinal, ele ficava o dia todo adormecido, no meio da relva fresca da noite, e enquanto os raios do dia surgiam, sua respiração quase parava... mas seus sentidos estavam alertas. Sim...ele sabia que algo diferente havia acontecido naquela noite.

Um cheiro novo!Ou quase novo....será??

Guaxindiba sabia da presença do jovem elfo, petulante como qualquer elfo que ele tenha visto ou ouvido falar nestes anos todos de vida. E dragões vivem muito, muito tempo. Portanto, ficou sabendo de muitos elfos e, apesar de serem inimigos, havia uma distancia segura que era boa para ambas as partes.

Acho que numa era tão difícil de viver, com a extinção da sua espécie (bom..quase extinção, pois ele ainda estava lá, vivo e firme), não atacar os elfos era algo inteligente a fazer. 

Mas este cheiro.... não pode ser... ele já havia sentido antes... homens?? Aqui?? Fazia muito tempo que não sentia o gosto doce da carne de homens. Seria um prazer voltar a senti-lo, sim, como nos velhos tempos...tempos que ele pensava não voltariam mais... Carne de elfo não era ruim, mas era raro naqueles dias.. Homens!! Isso sim.

A noite prometia.
Guaxindiba esticou as patas. Levantaria e voaria por aí...sabe como é....dar uma volta nas vizinhanças... quem sabe não acharia, perdidos no meio das árvores, os "donos" daquele cheiro agradável, que estava fazendo seu estômago roncar.


domingo, 23 de setembro de 2012

Capítulo II - O Elfo Firulas

E assim, lá estão Ivan e Cauã, em cima do lombo do velho Guaxindiba, sem que eles soubessem sequer que o Velho dragão andava pelas suas terras.

O que eles precisavam é arrumar um jeito de descer do lombo do bicho, enquanto ele estava sonolento, saindo do sono pesado, sem notar que dois meninos humanos estavam em cima dele.
Senão, ia ser grande confusão. De certo, Ivan e Cauã nunca mais apareceriam em casa, causando grande dor, e ninguém ficaria sabendo o que havia acontecido.


Por um momento, os meninos não acreditaram no que viam. Depois de um zumbido forte, uma flecha acertou a casca do dragão (de certo não causando grande dor, pois o monstro nem se mexeu), nascendo ai a chance de escaparem com vida.

Ivan foi primeiro, descendo como louco pela lateral do bicho, que respirava cada vez mais forte. Cauã ia atrás, quase subindo na cabeça do amigo.


Quando chegaram ao chão macio, terra firme, correram como nunca. Não sabiam quem havia atirado aquela flecha, mas com certeza  iam ficar imensamente felizes em conhecer o amigo flecheiro.
Se esconderam atrás de algumas árvores,e ficaram imóveis, escutando o bater dos próprios corações saindo pela garganta.

O Velho Dragão continuava ali, parado, mexendo poucos os olhos, respirando, tirando as patas um pouco, como se recupera-se a consciência aos poucos.

Ivan olhou para Cauã, que continuava com a boca aberta e sem dizer nada. Falou em voz bem baixa, o mais baixo que conseguiu:

 "- Cara, isso é um dragão??"

Cauã continuava com a boca aberta, olhos abertos...e não emitia som algum.

"-Cauã, fala comigo, mano!! "Isso ai" é um dragão???

Pobre Cauã. Não conseguia emitir um som sequer. Queria falar, queria apontar, mas seus braços não mexiam... seus olhos e sua boca só abriam... nada mais.

Ivan começou a olhar em volta. Se lembrou do "amigo flecheiro". Olhou para dentro da mata... Nada se movia. Nenhum som. Mas "ele" estava lá...tinha que estar. Atirou a flecha com a corda amarrada. Eles desceram por ela... Mas onde ele esta??

Mas o que está acontecendo?? Como pode ser um dragão?? Aqui no bairro?? Na roça??? Não era um porco?? Era um porco, mas não daquele tamanho, nem com aqueles dentes.

Nesse momento Ivan prestou mais atenção no bicho que despertava lentamente. Havia um cheiro no ar...um cheiro diferente, forte, de animal. Como é que os cães nunca perceberam o cheiro?? Eles são ótimos caçadores. "O pai leva eles para caçar...eles farejaram centenas de vezes estes pastos e nunca sentiram nada... tem algo estranho aqui...muito estranho".

O dragão parecia mais acordado. De onde estavam, Ivan podia ouvir a respiração do enorme lagarto ficar cada vez mais forte.

"-Precisamos sair daqui, Cauã! O dragão está mais desperto e logo vai começar a nos farejar e ouvir melhor, se é que já não sabe onde estamos".

Cauã olhou para Ivan ainda mais assustado e, ainda sem emitir um som, fez que sim com a cabeça e se moveu lentamente, seguindo Ivan para dentro da mata. De certo, o velho Guaxindiba não os perseguirá se eles se esconderem na mata densa.

Quando já caminham havia 5 minutos mata adentro, noite chegando depressa, Ivan parou e procurou escutar alguma coisa. Andaram no maior silencio possível, que foi quebrado por Ivan:

"-Acho que estamos seguros aqui. Podemos falar agora. Cauã, eu estou pensando em tudo isso, o dragão, os cheiros que nenhum cão sentiu, você está me seguindo? Aconteceu alguma coisa, algo que explique o que está acontecendo...".

Cauã pareceu acordar de um sonho. Ouviu as palavras do amigo quase sem pensar direito: "- Como assim cheiros?? Cães?? Era mesmo um dragão??".

"-Cauã, acho que passamos por alguma espécie de portal. Só pode ser isso. Não tem outra explicação. Estamos na roça, mas numa dimensão diferente. Você sentiu alguma coisa na nossa caminhada?? Algo ruim?? Ou bom?? Alguma sensação??Algo??".

"-Calma, Ivan.. deixa eu pensar... não senti nada diferente, nada não... ainda não tô acreditando...era mesmo um dragão...e dos grandes..você sentiu a respiração dele?? Era quente ou era impressão minha?? Caraca, mano, o bicho solta fogo, não é?? Tipo Glaurung, não é?? Não pode ser. Eu devo estar louco...e você disse "outra dimensão"? Sim, pode ser outra dimensão.... um portal..onde terá sido??... ouviu isso?? Pareceu uma folha estalando".

"-Não foi uma folha estalando, foi meu arco retesando e ele esta apontando uma flecha para você agora. Então, mexa-se bem devagar, e virem os dois para mim. Não achem que não consigo atingir os dois antes que vocês vejam de onde partiram as flechas. Vamos, devagar, virando para mim"

.

E lá estava ele. Um menino, de aproximadamente 12 anos, com um arco e uma flecha que parecia bem pontuda. Então havia sido ele quem atirou a flecha no dragão, com a corda?? Mas, ele era elfo??
"-Quem são vocês, edain? Estavam nas costas do Velho Guaxindiba, o que não mostra muita inteligência. Falam muito alto para alguém que esta fugindo de um dragão!"


Ivan olhou para o menino com o arco apontado, e disse:

"-Você já sabe quem somos. E você, quem é?".





Era mesmo um espanto, tanto para Ivan e Cauã quanto para Firulas.
Edain, assim tão perto. Eles eram ouvidos e vistos, mas a comunicação era proibida. Ninguém nunca havia quebrado as leis antes.

"Meu pai vai me dar a maior bronca", pensou Firulas, "afinal havia de ser justo ele a quebrar as regras de seu povo?". Mas Firulas não se conteve, pois era a primeira vez que um homem chegava até eles. Isso nunca havia acontecido antes e ele não poderia deixar passar a oportunidade. "E se este caminho de que falavam, este portal, estiver aberto? Será o fim da paz de seu povo. Sim, de certo havia feito o certo. Levaria os dois Edain de reféns, que não voltariam nunca mais para a dimensão de onde vieram. Ninguém pode ficar sabendo da existência de elfos".


Mas a noite já estava lá, no céu. As estrelas eram as mesmas. A lua era a mesma.

Ivan estava preocupado com a situação. Estavam em algum lugar (que não era o lugar que eles pertenciam), conversando com elfo (que não era para existir), de noite (quando já era para eles terem voltado) e sem perspectiva de voltar logo para casa. 



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Capítulo I - O Porco


Capítulo I
O Porco

O porco apareceu aqui na roça e logo se tornou uma lenda.
Homens de valor enfrentaram noites frias, acordados nos mais diversos locais, em tocaias preparadas para agarrar o tal porco que comia, fazia tempo, as plantações de milho, amendoim, hortas...
"Seu" Isaac passou duas noites em cima de uma árvore, com a armadilha montada no chão, esperando a "besta" chegar, e nada.
"Seu" João Gomes fez uma "casamata" rústica, mas inteligente, disfarçada no pasto, do outro lado "da rua". E ficava lá, nas noites em que aguentava o tranco, pois "seu" João é homem idoso, com pele marcada de sol e tempo, com olhos sagazes e cheios de força.

O danado do porco, dizem, é preto como a noite e enorme, filho de javali com algum porco do mato. Tem a inteligencia de uma pessoa e não deixa dúvidas de que sabe que está sendo tocaiado.

Nada do porco ser pego.
Ivan e seu amigo, Cauã, resolvem ir atrás do porco, logo no dia seguinte á um de seus ataques, quando comeu a rocinha de milho de seu avô, "Seu" Isaac.









Marcaram a perseguição para a tarde do dia seguinte.. Levariam seus apetrechos de caçada, com certeza. Uma capa, para protege-los do sereno.
Um facão, peça obrigatória para quem vai entrar na mata.





Ivan corre para a casa e pega sua capa e seu facão.
Não daria mais ouvidos á irmã.
Cauã e ele já estavam atrasados e não vai ser nada bom perder os últimos raios de luz. Eles teriam que procurar as pistas com uma lanterna, item que ele não tinha.





Na roça aqui é costume o pai se ausentar dias, trabalhando em casas distantes, ás vezes no meio da Mata Atlântica, voltando só nos finais de semana. Locais ermos, onde celular não pega.E aí você já sabe, né?? Foguinho no chão..latinhas cheias de feijão..uma boa erva de fumar...e pronto...a saudades da família se aquieta e o sono chega.

O pai do Ivan estava longe, numa destas obras distantes. Gente com muita grana constrói seus lares no alto das montanhas, onde a vista tira o folego dos pulmões e escancara os olhos, que se abrem como a querer respirar pelos pulmões..rs

Por isso Vitória não gostou de saber que eles iriam sair, justo agora que a noite chegava...
"- A mãe não vai gostar!!".


Saem da casa correndo, levantando poeira.
Sobem a rua de terra, que vai dar na mata, lá em cima quase do morro.

Aí é andar pela mata, como foi feito tantas vezes...
Antes Ivan não sabia, mas agora sabe que este ambiente verde e fechado esconde seres que vivem há muito tempo escondidos, tentando manter a distância ideal para viverem em paz.
Ivan sabia que andavam sem serem ouvidos...
Viam sem serem vistos...
Elfos.
Mas eles estavam com pressa...iriam fazer algum barulho..o que não era nada mal se pensar que algum Elfo poderia segui-los e ajuda-los, de alguma forma.
Isso já aconteceu algumas vezes... Gildor Inglorion, por exemplo... apareceu "do nada", com sua patrulha armada. Tudo pode acontecer, meus amigos...tudo pode acontecer!!!

Subiram a montanha e, no alto, entraram nas terras do tio Isáia, (o nome dele era Isaías, mas não tem caboclo que fale o nome certo... vai Isáia mesmo!!!) e o pasto baixo revelava as pedras do Quaxindiba, onde subiram para ver melhor o "em torno".









terça-feira, 4 de setembro de 2012

Apresentações



Este é Ivan, 12 anos.
Mora na roça, num canto de terra ao lado do rio.
Seus pais são gente simples, nascidos e criados no interior, numa cidade pequena, quase sem recursos.
O pai é pedreiro e a mãe é cabeleireira na cidade, que junto com mãe, avó de Ivan, tem um pequeno salão numa casinha alugada com muito custo e trabalho.

Tem uma irmã mais velha, a Vitória e um irmão menor, de 3 anos, o Felipe.

Por causa de um amigo na cidade, Ivan conheceu o Hobbit, o prelúdio encantado do Senhor dos anéis. Leu o pequeno livro com encantamento e depois disso, tudo foi diferente...
Ivan passou a  viver nos dois mundos, passando por aventuras com seu melhor amigo, Cauã.




São crianças vivendo em dois mundos encantados: a roça, junto a Natureza, animais silvestres, plantas e rios, cobras e jacús, aranhas e capivaras. Já não seria motivo bastante para a felicidade??
Mas somasse a este a Terra Média, no mundo paralelo de Tolkien.
E quem me conhece sabe muito bem que eu sou habitante igual á Ivan, na condição de mortal e ciente destes mundos, permitindo a entrada e saída deles com a facilidade de quem atravessa uma porta aberta.
Eu sou cada um destes pequenos que brincam pela mata, atrás de orcs e elfos.

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